quarta-feira, 27 de julho de 2011

Philosophy

Análise do texto: "Aprender a Pensar" de Immanuel Kant
Este texto baseia-se na frase: "Não se aprende filosofia, mas a filosofar".

De certo modo este texto transmite-nos que sempre nos habituámos a aprender, e que agora temos de em vez de aprender a filosofia, aprender a filosofar, isto porque a filosofia não funciona como as ciências, em que nos apresentam conhecimentos que podemos tomar como certos, alguns deles inquestionáveis, e que quem os aprender a compreender e entender já será considerado possuidor do saber. Pelo contrário, na filosofia não há nenhum livro que nos imponha conhecimentos concretos, e se o houvesse, seria uma traição ao público, como se fossemos enganados com uma suposta filosofia acabada, teorias criadas em benefícios das pessoas que as fazem, em vez de nos ensinar a adquirir a nossa própria perspectiva e forma de pensar. Então, o método da filosofia tem como suporte a investigação, a procura da verdade, mesmo que isso implique ir contra aquilo que está estabelecido pelas autoridades e que vai contra a opinião do outro.

Em suma penso que a filosofia não se baseia em nenhum alegado conhecimento pré-fabricado, mas na reflexão e na procura do saber e da verdade, investigando até à raiz da questão, procurando sempre a autonomia, de forma a não nos deixarmos levar pelos pensamentos dos outros, mas aprender a compreende-los para um melhor pensar e fundamenta as nossas próprias opiniões, estabelecendo uma atitude crítica relativamente aos assuntos envolvidos.

4 comentários:

Globalmente, parece-me uma muito boa análise mas há dois pontos que podem levantar algum debate:

1) a noção de que a ciência produz e fornece um tipo de conhecimento potencialmente "certo e concreto" ou mesmo "inquestionável", é muito controversa. Esta é uma concepção, parece-me, excessivamente positivista do conhecimento científico, em grande parte herdada do século XIX através de Comte e da esquerda hegeliana, concepção essa que foi progressivamente descontruida ao longo de todo o século XX por figuras como B. Russell, T.Kühn ou K. Popper. A própria história da ciência (recheada de rupturas e revoluções) parece contrariar desde logo a pretensão daquela à "inquestionabilidade". Julgo que é precisamente pelo facto do conhecimento científico ser (-)questionável, que ele pode evoluir, através de uma rede auto-refutativa contínua. A ser inquestionável, mais proximo estaria do dogmatismo teórico no qual o conhecimento científico estava submerso antes da revolução copernicana.

2) Entendo a ideia de que a filosofia, enquanto estado puramente cognitivo, não se baseie idealmente em nenhum "conhecimento pré-fabricado" e procure rebelar-se contra o "pensamento dos outros". Ainda assim, a história da filosofia parece também pôr em causa essa ideia. A filosofia é também um processo gradual e inescapavelmente inter-relacionado. Não poderiamos conceber Aristóteles sem Platão, Descartes sem Arístóteles, Hume sem Descartes, Kant sem Hume, Hegel sem Kant, Kierkegaard sem Hegel ou Heidegger sem Kierkegaard. Embora sejam todos filósofos fundamentalmente distintos, há uma influência e contágio de ideias entre eles que permite à filosofia, tal como à ciência, progredir no tempo (ou regredir, a depender da perspectiva).

Neste sentido, na caracterização do acto de filosofar, eu frisaria sobretudo aqueles dois pontos que o texto frisa,

1)rebeldia contra a autoridade
2)atitude crítica

em suma, o modelo sintetizado pela figura socrática. É esse o modelo que a análise propõe e que eu perfilho.

Thumbs up

Esta contraposição de aprender filosofia ou aprender a filosofar encontra um delineamento mais definido nas argumentações de Kant e Hegel, mas como bem referiste, César, na filosofia existe sempre uma influência e contágio de ideias e assiste-se a uma intersubjectividade (veja-se o caso de Kant, que sofreu uma evidente e clara influência de Rousseau, neste entendimento!).

O pensamento de Kant é claro: há que fomentar a autonomia intelectual através do exercício próprio da razão; aprender a pensar não é aprender pensamentos dos outros. Ideia bastante interessante, sem dúvida. No entanto, considero que a tese hegeliana, que se contrapõe à tese kantiana, apresenta argumentos ligeiramente melhores, pois não se pode aprender a filosofar sem aprender a filosofia, do mesmo modo como só se aprende a pensar quando se aprende os conteúdos do pensamento.

E como é que se poderá pensar sem conteúdos ou fundamentos? É certo que a proposta de Kant é muito chamativa, esta ideia de auto-formação, mas defendo que aprender a filosofar pressupõe um conhecimento da filosofia já adquirido.

César,

Penso que o método científico poderá ser caracterizado de duas maneiras, através de do indutivismo que corresponde a uma visão popular da ciência onde pessoalmente não me apoio, visto que o seu principal objectivo é encontrar factos que confirmem as suas teorias. No indutivismo estão presentes algumas objecções:

- A observação pura é impossível dado que não é possível registar todos os factos empíricos uma vez que estamos sempre sujeitos a fazê-lo segundo os nossos interesses e expectativas teóricas;


- Como muitas teorias científicas se referem ao inobservável, não podem ter sido concebidas por indução a partir daquilo que se observa.


Deste modo partindo do critério de falsificabilidade, Popper propôs uma perspectiva do método científico que se opõe ao indutivismo. De acordo com essa perspectiva, conhecida por falsificacionismo Popper afasta-se da visão indutivista da ciência sugerindo que os testes devem ser tentativas de refutação, o que na minha opinião fará mais sentido.

Não poderia estar mais de acordo em relação à filosofia ser um processo gradual e inescapavelmente inter-relacionado.

Thumbs up :)

Sarah, eu tambem estou mais inclinado para a tese hegeliana,

ainda assim, também é possível que as teses de Kant e Hegel não sejam mutuamente exclusivas, já que, com alguma probabilidade, podem estar a referir-se a realidades distintas do discurso filosófico. Kant refere-se maioritariamente ao filosofar enquanto acto puramente antropologico, na sua acepção mais natural e dissociada da história. (Claro está, Kant nunca negligenciaria a importância do pensamento dos outros, da filosofia anterior.)

Já Hegel é profundamente historicista e refere-se à filosofia sempre numa relação com a sua visão da história. Já que Hegel crê que a história da filosofia é intrinsecamente evolutiva e progressista, ele entende sempre que o legado de um filósofo anterior é o trampolim para um filósofo posterior dar um pulo na "evolução". Platão, por exemplo, seria um trampolim fundamental, ainda que menos evoluido, para Aristóteles (numa relação tética e antitética). Pessoalmente, considero ultrapassada esta concepção progressita da história em geral e da filosofia em particular.

Pedro,

a proposta de Popper, que bem delineaste, vem a reforçar o caracter de "questionabilidade" do conhecimento científico, enquanto acto continuamente auto-refutativo. A "questionabilidade" é pois a condição primeira para a falsicabilidade.

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