Esta notável passagem da República de Platão descreve o crescimento do filósofo ao conhecimento do bem. Na leitura deve ser destacadas as suas implicações morais, políticas e educativas. A educação, por exemplo, segundo a Alegoria não consiste na memorização de conhecimentos, mas sim em ensinar a pessoa a olhar em direcção à verdadeira realidade, em ver aquilo que merece ser visto.
Esta conjuntura é uma metáfora da condição humana perante o mundo, uma passagem gradual do senso comum enquanto visão e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, sendo este racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na causalidade.
Segundo Platão, o processo para a obtenção do conhecimento envolve dois domínios: o domínio das coisas sensíveis e o domínio das ideias. A realidade encontra-se no mundo das ideias, um mundo verdadeiro e real, ao contrário da ignorância que permanece no mundo das coisas sensíveis onde se encontra a maioria da humanidade, pois os objectos neste mundo não são perfeitos como no mundo das ideias resultando numa insuficiência para gerar um conhecimento perfeito.
3 comentários:
A República de Platão é uma leitura bastante interessante. Tive que analisá-lo o ano passado no âmbito da cadeira de História das Ideias Políticas. Confesso que conheço mais os contributos de Platão na vertente política, como por exemplo, o pensamento platónico atribui tremenda importância à educação, aliás, o projecto político de Platão defendia que a Cidade-Estado ideal deveria ser obrigatoriamente governada por alguém dotado de uma rigorosa formação filosófica...
Relativamente ao que escreveste, é evidente que Platão segue a linha socrática de pensamento, isto é, essa ideia de buscar a realidade através do conhecimento, não das coisas mas do além das coisas. Só que Platão acreditava que nem todas as pessoas conseguiam aceder razão. Como referes,"os objectos neste mundo não são perfeitos como no mundo das ideias resultando numa insuficiência para gerar um conhecimento perfeito.", ou seja, nem todos têm a alma perfeita, sendo impossível chegar ao mundo das ideias.
Concordo plenamente, tendo em conta que o que se torna mais aliciante neste texto é a dualidade existente entre o mundo inteligível e sensível.
Confesso que a República não é uma das minhas obras preferidas de Platão, embora seja, num certo sentido, a obra chave do filósofo e provavelmente a mais influente, em conjunto com o Fédon e o Timeu. As ideias políticas de Platão são fundamentais e, em alguns aspectos, mais humanas que aquelas formuladas depois por Aristóteles, mesmo que eu pessoalmente não gostasse de viver na cidade idealizada por Platão. As divisões em castas trabalhistas é francamente irrealista e o tratamento das crianças é particularmente assustador. As próprias tentativas de Platão em Siracusa não deram em nada, ao que se julga. Dito isto, aquilo que me interessou mais na República sempre foram os conteúdos ontologicos mais que os políticos, nomedamente os livros 6 e 7 (onde está a alegoria). A ontologia dual de Platão é uma das coisas mais emocionantes já concebidas. Em certo sentido, a filosofia nunca foi verdadeiramente capaz de a superar. Ainda hoje muito do que se produz em ontologia são variações ad infinitum, um pouco mais sofisticadas, do sistema dual de Platão.
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