domingo, 1 de maio de 2011

Sentido da Vida



“O sentido da vida consiste no seguinte: em que não há sentido algum em dizer que a vida não tem sentido.”, citando Niels Bohr. No entanto, o sentido da vida é um tema susceptível a diversas perspectivas, claramente devido à sua subjectividade que é fulcral para a filosofia. A dificuldade que rodeia este tópico é a falta de clareza e a sua notória imprecisão, e sem dúvida constitui a questão que todos anseiam saber. Mas a vida é mesmo assim, cheia de perguntas, e viver é descobrir as respostas. Contudo, é um tema que nunca será plenamente desvendado, apesar da busca incansável, e por mais averiguações que se façam, é simplesmente demasiado complexo. E perspectivas sobre o assunto não faltam, até que me provem o contrário.
Questionar-se sobre o sentido da vida é questionar acerca da realidade, é reflectir sobre o porquê das coisas e desvendar os propósitos e a essência da própria existência. É por isso que inevitavelmente o conceito de sentido da vida relaciona-se com a natureza da consciência. Tem sempre a ver com a mente, pois cada pessoa toma decisões e age. Pressupõe-se um saber empírico, pois a percepção repetida e habitual das coisas é o que permite a formação do conhecimento. Mas será que a felicidade depende do conhecimento? Sim, pois creio que são conceitos inevitavelmente interligados, na medida em que não é possível ser-se feliz sem se conhecer a razão pela qual o estamos. E também como é que podemos chegar ao suposto sentido da vida sem conhecer? Isto porque há que ter em conta que, ao nascermos, a nossa mente é completamente desprovida de ideias, não possuímos conceitos a priori sobre o sentido da vida. Daí que seja através de um conjunto de saberes e de uma constante e repetição de experiências, que ganhamos confiança e credibilidade para a tomada de acções e decisões na nossa vida, daí que o senso comum seja uma ferramenta primária de adequação e ambientação ao meio onde vivemos. É, primeiramente, através do conhecimento espontâneo que temos das coisas, que inicialmente podemos definir um "caminho" ou um suposto propósito para a nossa vida. É através do senso comum, e ao estabelecermos objectivos, que nos é permitido a orientação no mundo. Quando atingimos os objectivos que procuramos, temos a sensação de que a nossa vida tem sentido. Quando isso não acontece, questionamos logo o valor da vida e pomos em causa a natureza transitória das coisas e de que tudo é em vão. O ser humano é um ser insatisfeito. Mas mesmo que a vida não tome o sentido que desejamos ou gostaríamos, o melhor a fazer é aproveitar o momento e aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem sabe ver. Isto para dizer que o senso comum e o conhecimento que apreendemos, apoiados na motivação e esperança, são um caminho claro definidor do sentido da vida. Sem dúvida que é o limite e fundamento de um conhecimento que descobrimos conforme vivemos… Sendo isso, é um inevitável guia das nossas relações interpessoais, o que nos permite ser mais felizes ou não, dando-nos as bases para um melhor entendimento em relação a qualquer coisa. Nesse sentido, claro que a felicidade está associada ao sentido da vida, pois supostamente sem felicidade a vida perde sentido.
Claro está que a noção de sentido da vida aprofunda-se muito mais, isto é, não nos podemos basear simplesmente no nível do senso comum, sendo necessária uma análise mais profunda. É um tema que é associado ao conceito de existencialismo, pois para além de um conhecimento exterior é necessário um conhecimento interior. Qual a importância de cada pessoa se conhecer a si própria? É necessário esse auto-conhecimento, a consciência da singularidade, para que seja possível sabermos as nossas capacidades e limitações. É ao termos a noção do "eu” que temos ideia da nossa existência e nos definimos.
Ao mencionar a vertente filosófica existencialista, tenho que referir o filósofo Sartre, que era apologista da ideia que a vida não tinha sentido, devido à inevitabilidade da morte. Ao confrontar-se com esta ideia, diz que estamos condenados para o nada, assim, que sentido terá a vida? Há quem igualmente considere que a felicidade não tem sentido porque é transitória e não tem valor. A nossa finitude está, de facto, assegurada, mas não concordo que seja razão para se considerar que a vida não tem sentido. A mortalidade é a primeira e verdadeira única certeza que temos, e em nada tira o sentido da vida, na minha opinião. Porque haveria a certeza do nosso fim fazer com que tivéssemos que esperar sentados para que ele aconteça? Continuamos vivos e permanecemos vivos… Há que simplesmente viver.
Porém, deparamo-nos com três ramos que procuram responder a esta pergunta, cada um apresentando perspectivas bastante divergentes e incapazes de se complementarem: a filosofia, a religião e a ciência. A abstracção é o método por excelência utilizado pela filosofia para a explicação de tudo e para responder às perguntas que formula. Daí que acabam por abordar a questão do sentido da vida com pouca clareza e distinção. A religião responde que Deus é que dá sentido à existência, e que a inevitabilidade da morte não permite alcançar a felicidade plena em vida, pelo que só a vida após a morte e a imortalidade da alma é que permite esse alcance, através da comunhão com Deus. O certo é que muitas pessoas se agarram a estas crenças ilusórias (na minha perspectiva), pois limitam-se a aceitá-la de modo a não responder às expectativas da ciência. Isto porque a ciência dá-nos uma perspectiva concreta das coisas, baseando-se em factos comprovados. O que contraria os ideais religiosos que se baseiam apenas na fé, esta que se designa pela confiança que depositamos numa determinada ideia ou crença, que se manifesta de maneiras diferentes. Também podemos considerar, assim, a arte como elemento de busca do sentido da vida, na medida em que é, igualmente, maneira das pessoas exprimirem as suas emoções, pensamentos e crenças, manifestando-se também de diferentes maneiras.

Será que é possível apurar o verdadeiro sentido da vida? A procura é constante e interminável, mas faz parte da natureza humana, pois o homem tem a necessidade de compreender a sua própria existência. Mas a questão permanece…

2 comentários:

Sábias palavras, não poderia concordar mais.

Mas acrescento o seguinte: Não acredito totalmente que o propósito da vida é ser feliz. Claro que é algo elementar, mas penso que o propósito da vida é, acima de tudo, fazer a diferença, ter a coragem para tentar e lutar por aquilo que acreditamos. É sermos nós próprios. Porque a vida, por e ao sermos quem somos, já tem o seu sentido definido... Life is meaningless only if we allow it to be.

Sarah

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